Hoje eu levantei não querendo levantar. Quem me conhece sabe que odeio acordar cedo, mas já faz seis anos que essa é a constante na minha vida. Depois de vestir, dar café da manhã, escovar os dentes, lá foi a pequena para e escola.
Peguei meu celular para ver os recados e lá estava. Uma mensagem de uma querida amiga com uma propaganda de leite em pó para os dias das mães dizendo “olha que lindo!”. Respirei e fui ver. Realmente lindo. Muito bem filmado (praxe para as grandes indústrias), fotografia maravilhosa e uma música que é de cortar o coração. Me peguei emocionada. Mas ao mesmo tempo indignada.
É impressionante como a publicidade se apropria de histórias reais e contundentes para vender os seus produtos. O comercial mostrava mães de verdade. Mães que eu respeito e sempre dou meu apoio incondicional.
Nessa publicidade o tema era a mãe dando todo o suporte para que seus filhos superarem barreiras pessoais, sociais e físicas. Mas não mostrou em nenhum momento as barreiras pessoais, sociais e físicas que essas mães todos os dias enfrentam para poder dar suporte aos seus filhos. Ou seja, a verdadeira homenageada não é retratada dentro de sua realidade. A realidade é crua, é dura e não vende.
Todos os dias levantamos da cama e a primeira missão que nos acorda são nossos filhos. Todos os dias estamos sobrecarregadas, uma mais outras menos, mas nunca vi uma mãe que não estivesse sobrecarregada com o tríptico filho/casa/trabalho. E é assim desde sempre, embora nenhum artista renascentista tenha sido capaz de reproduzir tal realidade.
Carregamos também a responsabilidade social de criar, educar, alimentar, dar condições emocionais, sociais e físicas para que nossos filhos superem seus próprios obstáculos. Mas não há uma discussão ampla sobre os obstáculos que a sociedade em que vivemos impõe às mães.
Não existe o dia das mães, simplesmente por que não deixamos de ser mães na segunda feira. Vou repetir para que esse ponto fique claro. Todo é dia das mães. Todo dia somos cobradas, sobrecarregadas, pressionadas, e caso ousemos respirar ou olhar para o lado… recebemos o titulo social de PIOR MÃE DO MUNDO.
Como recebemos esse título? Basta se inscrever em algumas das categorias citadas abaixo:
- Se o filho seu comportou “mal” em público: você é pior mãe do mundo.
- Se saiu de um relacionamento abusivo e não quer deixar o filho com o abusador: é louca e a pior mãe do mundo.
- Se o ex-marido vem buscar os filhos em sua casa a 1h da manhã: é louca e a pior mãe do mundo.
- Se quer amamentar por mais de 2 anos: é louca, usa a amamentação para alienar o pai da criança e é a pior mãe do mundo.
- Se tem o desejo de trabalhar: é a pior mãe do mundo, trabalhar é só para quem precisa.
- Se precisa trabalhar: é a pior mãe do mundo, porque deixa seus filhos sei lá com quem.
E assim vai mais um dia do resto de nossas vidas. De uma pior mão do mundo para muitas piores mães do mundo. Comemorando fracassos e vitórias, obstáculos e fluidez, porque afinal TODO DIA É DIA DAS MÃES. E quem sabe amanhã eu durma até às 10h.
Graziela Mantoanelli.
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